Mostra Brasileira de Curta-metragens
Sessão Notícias de Casa
Estímulos sensoriais a toda vista: são vibrações sonoras, visuais que chegam ao farol. Aqui, é o único lugar seguro para sua pele. A performance é o seu manifesto de defesa ao mundo. Mas também onde é possível partilhar com o outro o que acontece com cada trama do seu corpo—casa. Atitudinal vem e vai em pela cidade de Goiás sinalizando e nos aproximando do que é o farol. Habito diante da televisão, um pensamento do corpo que se revela a beira do rio. Urucuia, grande rio de águas escuras, permeia quem o adentra. De mistérios nos transforma. E O Canto que quase como uma porteira do seu interior, ecoando do peito como quem sente saudades de casa.
Sessão Táticas de Fuga
“os moleque cata umas moto sem placa, para na frente da viatura e fica vram vram vram [...] se tem alguém que vai fazer a revolução é esse moleque. essa coragem não é para qualquer um.” Galo de Luta
Qual fuga um filme pode dar? Que polícias rondam as imagens que produzimos? Em Justa-Causa: Motoboys Kamikazes uma moto voa entre prédios escapando da polícia-maquina-cachorro. Em Madruga Bikes o desenho de uma nova bicicleta neon faz amigos se encontrarem. Em Paxu é na liberdade de intervenção sobre a imagem que a fuga acontece. A água, os animais, os arquivos perturbam a sacralidade do mapa. Fugir nem sempre é evitar o mundo, mas pode ser forma ativa, uma ação.
O flash da fotografia é o mesmo da multa. A imagem é escape e captura.
Sessão Da ponte pra cá
O que você é diante do lugar de onde veio? Casita nos acolhe, Tecendo Caminhos mostra as costuras itinerantes dentro do DF, Provisório nos lembra do direito a ir, vir e ficar, Vamos em Batalha encontra a experiência das crianças com sua comunidade. Da ponte pra cá traz filmes que refletem sobre pertencer onde se está, quem se é e até que lugar do nosso vasto mundo pode se chegar.
Sessão Corações Selvagens
Será se posso? Quero poder de alguma forma.
Me dê feitiço e fogo.
Desejo o impossível, tubarão e crocodilo.
Meu coração selvagem tem pressa de viver.
Eu fecho os olhos e escuto.
Pois eu acho que depois do medo vem o mundo.
A memória se faz a partir do contato com aquilo que sobrevive e se refaz após um Incêndio. Na cartela vermelha, é possível ouvir o fogo cavando as camadas da imagem, e anunciando uma brecha em forma de coração. Monalisa torna-se espelho à medida que se triangula a cena, há uma partilha de um modo de ver e se ver no mundo. Na tensão do que se imagina como esvaziamento das cores e da vida, a súplica quer segurar o presente. Tal como em Um Mal Necessário, talvez melhor abrir mão do pedido e deixar correr o rio, o diabo espreita os que não se arriscam em águas desconhecidas.
Todavia o carnaval no inferno não cessa enquanto Exu já caminha em direção ao mar. Nesse encontro, tacou-se a pedra no pássaro enquanto entoava:
A loucura é a gente aprender a se amar.
Sessão Começo Meio Começo
O mundo forjado no balanço da rede
Da disposição para uma enunciação do mundo. Da autonomia para com as verdades no mundo. Dessas percorrem cosmologias nos grãos de desejo, dúvida e memória que compõem os filmes.
Viver um passado como um gesto de entrega. Em Thuë pihi kuuwi - Uma mulher pensando, a entrega é encontrar os ancestrais, ouvir suas histórias e tornar-se bicho. Reaprender a estar no mundo. Desorbitar seu centro. Habitar o movimento e reconhecer o cosmos enquanto coletivo vivo. Lembrar que o nome do mundo é floresta, enquanto se tensiona sua oposição, a cidade e seus modos exploratórios que excluem toda a possibilidade de vida. Em Expresso Parador, o ônibus circula, mas prende. A viagem não é compartilhada e, novamente, é preciso forjar um mundo que sustente uma vida encurralada. É preciso forçar o convite, reivindicar a reparação de um passado e fazer do presente, ficção: uma ficção de encontro, de confissão, de conversa. Uma travesti e um padre. Em Sagrada Travesti do Evangelho, ainda assim, não é possível adentrar a igreja. A possibilidade talvez seja uma terceira presença - em BAOBAB, rompemos o plano e contraplano para dar boas-vindas a quem sempre esteve ali.
Quatro personagens que sustentam suas dissidências no mundo em corpos sentados, mesmo que em movimento: rede, ônibus, carro, banco da praça. É preciso resistir ao tempo que se anuncia e estar atenta aos avisos de sua chegada.
Dentro do movimento, numa coligação com esse todo, se inserem resquícios fragmentários do nós. Aí se movem relações microcosmo-macrocosmo que compõem estes universos.